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Neste especial Dia do(a) Biólogo(a), a Dra. Marcela Firens da Silveira traça seu passado até chegar na Biologia e suas preocupações sobre o futuro da área.
Esses dias, nas redes sociais, participei de uma brincadeira que perguntava que profissão você se imaginava ter quando era criança. Na hora me lembrei que eu queria muito ser astrônoma. Eu possuía um caderno comprado por meus pais onde eu transcrevia as principais informações dos planetas, estrelas, galáxias, sistemas, descrevendo suas características. Também recortava matérias dos jornais sobre lançamentos de foguetes, sondas espaciais, novas descobertas do Universo que principalmente a NASA fazia na época (década de 90 do século 20).
Mas ao mesmo tempo, me interessava por paleontologia. Os dinossauros eram os mais amados por mim. Fazia o mesmo caderno de “pesquisas científicas”, como eu chamava na época, para estes seres que habitaram a terra há milhões de anos. Sabia seus nomes e as Eras Geológicas as quais pertenceram. Mas nessa época, já tinha passado a COP Rio de Janeiro, chamada Eco 92, e as ideias de que “precisamos salvar o mundo” já se espalhava e chegaram até mim. Comecei a ficar preocupada com o futuro da humanidade e também dos outros seres da natureza que eu já amava muito. Cresci vendo os documentários de bichos e plantas da TV Cultura e me emocionava com eles, me imaginando lá.
À época de escolher que profissão eu queria seguir (escolhi bem cedo, aos 14 anos), segui a seguinte lógica: olhar para o céu não resolverá a emergência ambiental. Só olhar para o passado, os “dinos”, também não. Precisamos de ações mais diretas. Assim, escolhi a Biologia.
Já na universidade, vi que precisávamos escolher também qual área da Biologia atuar. Apesar do meu amor aos felinos e à paleontologia, decidi seguir a área da Botânica. Tenho uma influência grande na família porque a maioria trabalha com produção de mudas, mas eu queria ir além. As plantas eram um mistério a ser desvendado. Me especializei nisso e vi meus colegas, cada um a seu gosto, seguir por áreas diversas, não menos interessantes que a minha.
Desde a minha formação em 2007 para cá, 2023, a atuação do Biólogo se diversificou ainda mais. Podemos estar em vários tipos de instituições, empresas, ongs, universidades, escolas, consultorias, no setor público ou privado, executando leis ou as influenciando. Porém, vi um desinteresse decrescente na profissão ao longo desses 16 anos de formada. Atuei como professora universitária e vi cursos fecharem ou diminuírem sua carga horária.
Penso que essa desvalorização se deu na falta de noção da importância do biólogo. Começa por uma das principais que é a formação de pessoas atuando na educação. O problema da desvalorização do professor nos diversos níveis da educação atinge também a classe dos professores biólogos e desestimula a novos profissionais a atuarem como tal. Isso inicia, então, um evento em cascata, em um mundo onde a natureza ficou para trás à mercê do crescimento econômico a todo custo.
A agenda ambiental retorna agora não só, mas também, na noção de prejuízos econômicos advindos da perceptível crise climática. Vem, novamente, para atender o mercado, por exemplo, o de carbono. Não estou aqui para criticar, dizer se está certo ou errado. Mas venho para tentar ressaltar a visão naturalista que o biólogo tinha e que tem desaparecido de sua formação e atuação.
Nem tudo está descoberto, descrito, estudado, desvendado!
Quem dirá como aquele ecossistema poderá se recompor? Quem ensinará seus filhos a cadeia trófica, o que é a clorofila e que o ser humano é um primata? Quem optará por uma pesquisa dos fungos da serrapilheira na universidade? Quem analisará um licenciamento ambiental em instituições de governo?
Para mim, fica a vontade de nos ver, biólogos, retornando ao seu ponto inicial, a sua importância inicial, a sua paixão inicial que é entender o mundo natural, desvendá-lo e entregá-lo da melhor forma para que todos usufruam dele e que assim continue.
Eu comecei olhando para o céu quando pequenina, e espero que possamos continuar nesta Terra podendo ainda sonhar em estudar as estrelas, mas preservando este lindo planeta que permitirá essa contemplação cosmológica para todas as futuras gerações humanas.
Marcela Firens da Silveira é Dra. em Biologia Vegetal e Coordenadora de Projetos de Conservação da Biodiversidade do Instituto Ekos Brasil.