Por que o mercado voluntário de carbono valorizou e o que o Brasil tem a ganhar com isso
Pode parecer até contraditório, mas a verdade é que enquanto a crise pandêmica enfraqueceu economias ao redor do mundo, ela acabou por valorizar um outro mercado, o mercado voluntário de carbono, com reflexos positivos inclusive no Brasil.
Isso aconteceu em grande parte porque a pandemia evidenciou a estreita ligação existente entre ambiente e economias, não obstante o mercado financeiro já estivesse pressionando as empresas a encarar as mudanças climáticas como riscos sistêmicos aos negócios, com capacidade de impactar recursos, receitas e mercado consumidor.
De fato, por dois anos consecutivos, Larry Fink, CEO da Black Rock, uma das maiores gestoras de fundos de investimento do mundo, enviou sua tradicional carta ao mercado, no início de 2020 e no início deste ano, alertando as lideranças corporativas sobre a certeira desvalorização de empresas sem comprometimento com as mudanças climáticas.
“A pandemia materializou aqueles riscos ambientais que poucos prestavam atenção antes e colocou a mudança do clima como o próximo grande risco. E o setor financeiro teve um papel importante, com mais ações de responsabilidade sendo exigidas tanto por bancos quanto por fundos de investimento do mercado financeiro”, destaca Thiago Othero, coordenador técnico do Instituto Ekos Brasil e especialista em gestão de carbono.
Essa mudança de percepção levou a uma verdadeira corrida por parte das organizações privadas por práticas denominadas ESG (da sigla Ambiental, Social e Governança, em inglês), impulsionando a eliminação e neutralização das suas emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE) como parte da estratégia de valorização de mercado. A compensação de emissões a partir da compra de créditos de carbono foi um dos mecanismos escolhidos em larga escala por essas organizações, por sua eficiência, resultado em curto prazo e cobenefícios socioambientais.
Tal corrida gerou uma grande demanda pelos créditos disponíveis, o que ocasionou a um aumento de preço bastante significativo no último período.
De acordo com o relatório State of Voluntary Carbon Markets 2020, o preço médio dos créditos associados à iniciativas Nature Based-Solutions e Natural Climate Solutions, por exemplo, tiveram um aumento de 30%. Além disso, o valor de mercado de créditos gerados por iniciativas de Uso do Solo, Agricultura e Floresta, como é o caso de projetos REDD, foi duas vezes maior do que aqueles gerados por iniciativas de Energia Renovável.
O que temos a ganhar?
Primeiro é preciso compreender que os créditos de carbono são gerados a partir de projetos ou iniciativas que comprovaram e certificaram sua redução de emissões de GEE. Em geral, trata-se de projetos de geração de energia renovável, substituição de combustível fóssil, manutenção de áreas de floresta em contextos de desmatamento, dentre outros. Ao vender esses créditos de carbono, tais iniciativas são recompensadas com recursos dos compradores, sendo esses recursos reinvestidos na comunidade e na economia local.
Por isso, levando em consideração de que o Brasil é, sem dúvidas, um dos países com maior potencial para o desenvolvimento de tais projetos, por sua rica biodiversidade, áreas conservadas, potencial para energia renovável, para citar apenas alguns, a valorização do mercado de carbono é uma porta larga para a entrada de investimento estrangeiro e, até mesmo nacional, aplicados no fortalecimento de economias locais, conservação ambiental e iniciativas produtivas sustentáveis.
O Programa Compromisso com o Clima contempla uma gama desses projetos geradores de créditos de carbono. Um exemplo é a Cerâmica CGM no nordeste do Brasil que substituiu a lenha nativa do Cerrado em seus fornos por biomassa renovável. A redução das emissões levou à geração de créditos de carbono no mercado voluntário. Os recursos obtidos com a venda são reinvestidos na comunidade em ações educativas, esportivas e ambientais, além de inclusivas, com a contratação de mulheres e deficientes. Outro exemplo é o projeto de REDD+ Manoa, desenvolvido pela Biofílica em parceria com o Grupo Triângulo. Este projeto conserva uma área de mais de 74 mil hectares no município de Cujubim, estado de Rondônia. A área, além de abrigar uma rica biodiversidade, tem papel de corredor ecológico, interligando unidades de conservação próximas.
Ao aderir ao Compromisso com o Clima a sua empresa pode compensar emissões com projetos como esses de forma simples, segura e eficiente.