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Rosemeire, Sildete, Paula, Marcia, Elenis, Aline, Tamires e Catarina. Nomes de mulheres trabalhadoras que descobriram os múltiplos frutos que as árvores do agreste oferecem, entre eles o sorriso de quem sente na pele o valor da independência financeira que a biodiversidade pode oferecer. Foi em 2015 que o grupo inicial de 20 mulheres se uniu para formar o projeto Sabores do Agreste, no Vale do Peruaçu, à época responsável por captar os frutos nativos e revendê-los, até que brotou a ideia de se reinventar com cursos e a produção de novos produtos regionais.
“Quando uma mulher da zona rural se casa, ela vira dona de casa, porque não há trabalho para as mulheres. O projeto é um meio de conhecer mais, de liberdade financeira mesmo, porque ajuda a gente, a todas nós”, narra Rosemeire Goncalves da Mota, trabalhadora do projeto desde seus primeiros passos.
Em conversa, ela explicou que o impacto de se ter uma oportunidade de trabalho é gigantesco na vida individual de cada uma delas, mas que estarem juntas e respeitarem os desafios de cada colega foi fundamental. “O dia que uma não tá bem a gente respeita, quando uma tem filho e não pode ir trabalhar, a gente aceita.”
A casa de Dona Sebastiana, mãe de uma das trabalhadoras de Januária (MG), foi palco do primeiro curso guiado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) instruído por uma nutricionista que ensinou todos os passos da higienização necessária para se manusear os frutos nativos, desde o recolhimento das árvores dos pequenos produtores locais – com plantio sem utilização de agrotóxicos – até o preparo das polpas naturais, que acontecia na própria casa de Dona Sebastiana.
Depois deste curso e com o avanço dos serviços, foi questão de tempo para a Associação dos Pequenos Produtores e Agricultores Familiares reformar um ambiente para atender o projeto. Mas, as trabalhadoras não demoraram para perceber que podiam fazer mais e iniciaram um segundo curso pelo Senar para lidar, dessa vez, com a confecção de geleia natural.
Geleias de umbu, tamarindo, acerola, manga sem açúcar, manga com pimenta e banana sem açúcar. Deu água na boca? Rosemeire lista cada sabor em meio a leves gargalhadas que refletem a alegria das riquezas encontradas em cada fruto. A Sabores do Agreste também comercializa produtos salgados como a geleia de cebola e a pasta de pequi com ervas.
“Os produtos que as pessoas mais gostam são os mais diferentes. A geléia de manga com pimenta e de cebola, o doce de umbu que é tipo uma balinha e o doce de abóbora com tamarindo (todo mundo ama), puxado para o azedo, são os mais procurados.”
E com dedicação e incentivos externos, um terceiro curso proporcionou que elas aprendessem diferentes tipos de doce de leite sem açúcar e com as frutas da região. Hoje, há doce de leite com caramelo de café, com geleia de umbu, mamão ralado, com geleia de ameixa, com coco, amendoim e geleia de acerola. Uma infinidade de produtos confeccionados por mãos fortes de mulheres conscientes sobre a riqueza da biodiversidade regional. Há muito tempo elas já compreenderam que conservar a terra, as árvores, a fauna e as tradições é sinônimo de uma vida mais digna e rentável.
“O que mais me deixa contente no meu trabalho é ver que o produto está pronto, terminado, direitinho, é a coisa que me deixa mais feliz.”
Que o principal fruto das árvores seja a permanência de podermos usufruir da vida que nasce da terra por muitas gerações.